segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Lisboa à noite



Quase petrificada pelo frio, Lisboa à noite é ainda mais bonita do que aquilo que eu me lembrava. Gosto de olhar para a cidade através de um vidro como se não a conhecesse, e redescobrir magia nos sítios por onde passo todos os dias.

Depois há os amigos, que me devolvem ao precário equilíbro entre as saudades de tudo e a ansiedade do presente. O meu penhorado agradecimento. A falta que fazem as gargalhadas é inestimável.


Não disse nada, amor, não disse nada:
foi o rio que falou com a minha voz
a dizer que era noite e é madrugada
a dizer que eras tu e somos nós.

A dizer os mil rostos de Lisboa
ao longo do teu rosto se te beijo.
À luz de um pombo chamo Madragoa
e Bairro Alto ao mar se te desejo.

Não disse nada, amor. Juro, calei-me:
foi uma voz que ao longe se perdeu.
Cuidei que era Lisboa e enganei-me
pensei que éramos dois e sou só eu.


António Lobo Antunes

1 comentário:

V. disse...

ai ai *suspiro*

o meu lobinho :) adoro esse poema!

os amigos cá estão...nem que seja para cantar as Janeiras!