sábado, 12 de dezembro de 2009

A continuação da existência deste blog será avaliada e decidida até ao fim deste ano. Significa isto que, a não ser que mude de ideias entretanto, vou fechar o estaminé.

Há vários motivos para tomar esta decisão. O mais saliente desses motivos prende-se, obviamente, com o profundo abandono a que tenho votado este espaço. Existem outras razões também que me levam a pensar que um veículo de comunicação destes, nas minhas mãos, se presta aos piores tipos de utilização - e eu não quero isso.

Este blog sempre foi um espaço pessoal - que eu durante estes meses usei exclusivamente como ponto de divulgação dos meus gostos e pensamentos.
Num espaço com essas características marcadamente pessoais, algumas pessoas têm facilidade em desenhar aquilo que consideram ser as fronteiras saudáveis e não questionáveis entre "informação divulgável" e "intimidade a salvaguardar"; eu não tenho o mesmo à vontade para traçar essa linha de divisão. Mudo-a frequentemente e conforme os humores, arrependo-me do que escrevo, acho que posso mostrar mais ou que deveria ter mostrado menos.
E entre tapar e desvendar em publico, pergunto-me se esses "stripteases" de introspecção não estariam melhor fechados à chave noutro sitio qualquer, e se eu e os outros não beneficiaríamos grandemente com isso.

A beleza de um blog está na interactividade de comentários. Num blog pessoal, mais ainda; há um feedback, que é coisa que folha de papel nenhuma, no mundo inteiro, alguma vez deu a alguém. Por esse inestimável contributo que me foram dando ao longo destes tempos, e pelos comentários que foram fazendo, agradeço muito. Talvez não possam imaginar o quanto - mas podem ter uma ideia se eu vos disser que passei anos a escrever interrogações em cadernos, e nunca houve respostas para mim. E foi muito bom saber que elas andam aí, nas bocas e nas pontas dos dedos dos outros. Saber, no fundo, que elas existem.

Mas, há um equilíbrio precário entre essa vantagem e a sensação agridoce de me "expor" em público. E porque neste momento a sensação negativa de me expor como sou pesa mais que qualquer vantagem, pondero fechar este blog de vez. Ainda que quase não me exponha. Ainda que praticamente não actualize. Pelas mesmas razões que me levam a ponderar terminar o blog, estou a considerar terminar também com a minha conta de Facebook (essa demasiado actualizada, claramente XD).

Ponham a coisa desta maneira: não quero que ninguém saiba de mim. Nem de uma ínfima parte do que sou, sinto ou faço. E por isso, neste momento, a decisão está praticamente tomada, mas não efectivada. Não o poderia fazer sem agradecer (penhoradamente!) a todos os que leram, aqui escreveram, ou tomaram contacto com este blog.

A todos, um até breve,

Raquel

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Bukowski’s Laughing Heart

your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.

and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.



You know, one day...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Epifania, ou de como demoro demasiado tempo a atingir conclusões óbvias.

Para enquadrar as considerações que aí vêm, conto uma pequena história real, passada hoje. O nome da OP (outra pessoa) será retido para protecção da identidade da mesma.

Toque do telefone pelas 14h30...
Eu: Tou?
OP: (choro compulsivo) Raquel?
Eu: Tou, OP, estás bem? O que se passa?
OP: Preciso de falar contigo (choro) onde estás?
Eu: Estou no sitio X, onde estás tu?
OP: (funga, funga) No sítio Y, quando vens para aqui?
Eu: Ia estudar para o sítio X, só chego aí daqui a umas horas...
OP: Preciso mesmo de falar contigo, manda-me um toque quando vieres para aqui então. (funga)
Eu: Ok, já te ligo então, beijinhos
(desliga)

Duas horas depois, e saindo do local onde estava, por ter achado que alguém que me liga neste estado não pode estar bem e precisará de ajuda rápida, vou ao encontro da OP.
Eu: Afinal o que se passa?
OP: Ah, já estou mais calma. Discuti com a minha mãe e com o meu namorado, as aulas estavam a correr mal e estava engripada, entrei em stress, comecei a chorar, decidi ligar-te e agora estás aqui. Desculpa lá.



Após este episódio, e no regresso a casa, fui casualmente enumerando quais as consequências da minha boa vontade. São elas, entre outras:
* tardes e noites com a minha família estragadas
* assistir a episódios lamentáveis da vida de outras pessoas, e a pessoas que gosto a chorarem baba e ranho sem que eu nada possa fazer
* para cima de 300 euros a menos no banco, sem ver grande chance de mos pagarem de volta
* milhares de sms trocadas e horas perdidas ao telefone por dramas de lana caprina

Contra factos não há argumentos.

Ouvi, durante muitos anos, pessoas importantes na minha vida (mas que não me conhecem tão bem com julgam) dizer que eu sou, entre outras, uma "paz de alma", "excessivamente calma", "imperturbável", "diplomática e nada conflituosa", "uma boa alma", "não sabe dizer que não", blah blah blah.

A verdade? A verdade é que a paga de eventuais actos de boa vontade que possa ter praticado se traduziu em duas coisas, frequentemente cumuladas:
* eu não sou capaz de pedir às pessoas que me rodeiam, exceptuando os suspeitos do costume, que me apoiem nos meus momentos baixos, preferindo geralmente guardá-los para mim para "não chatear os outros com coisas que não lhes interessam", a não ser que genuinamente não consiga aguentar sem partilhar o problema. Por outras palavras, quiçá mais duras, muito raramente consigo confiar nos outros como os outros confiam em mim.
* As pessoas que ajudo, mais vezes do que gostaria de admitir, parecem "desaparecer" da minha vida quando já está tudo bem. Isto, para voltarem a "reaparecer" quando as coisas voltam a não estar como seria desejável.

Lamento profundamente duas coisas em mim.

Uma delas é saber que não sou a pessoa com menor QI, mas que sou profundamente burra quando se trata de inteligência emocional - tão burra que me é muito difícil aprender com os erros, quando se trata de afectos, e as mensagens que já deveria ter aprendido levam muitas vezes mais de uma década a fixar-se no meu cérebro.

Outra, é ter um auto-controle excessivo em certas situações sociais e noutras não. Pudesse ele ser equitativamente distribuído pelas situações sociais em que é necessário, e mais do que uma pessoa me teria visto a ver vermelho e a dizer o que precisa de ser dito, na altura em que deve ser dito.

Infelizmente ou não, antes de chegar à ruptura, ainda tenho um mecanismo de auto-defesa que consiste em afastar-me da situação para não explodir.
Nesse sentido, e com base no mecanismo e nos factos acima expostos, posso apenas retirar uma ilação: a corrida ao "Quem quer ser Madre Teresa de Calcutá?" acabou, porque já vi os prémios que posso levar para casa, e nenhum deles me agrada muito, aparte o sentimento gratificante de me sentir útil e de poder ajudar as pessoas.

Assim sendo, perdoarão, mas a partir de hoje, e por decisão unilateral, vou abrir as portas ao reino do egoísmo - e só ajudarei os outros em situações genuinamente graves. Entenderão certamente que estou cansada. Por isso, dramas de "parti uma unha" e "ele olhou para mim de soslaio e não gostei" acabaram na minha vida, porque adivinhem: A PARTIR DE AGORA, ESTOU-ME A CAGAR PARA ISSO. TEMOS PENA.

Ah, é um mundo de possibilidades que se abre perante mim. *squee*