terça-feira, 25 de novembro de 2008

Entrevista

Hoje, e pela primeira vez, alguém me entrevistou por e-mail :)

Porque passei algum tempo de volta deste questionário, e porque me surpreendi a mim mesma pelo facto de ser uma optimista inveterada até com o estado do Ensino Superior, publico aqui parte do questionário que me enviaram bem como as minhas respostas... Ana, espero que o trabalho te corra bem! *** ;)

Achas que as propinas que pagas na tua faculdade são muito caras? (qual a quantia?):
As propinas a serem pagas no grau de Mestrado são bastante elevadas comparativamente com as propinas de licenciatura. Não tenho a certeza dos valores envolvidos; no meu caso julgo que na totalidade o Mestrado (que durará aproximadamente um ano lectivo a concluir) me custe algo como **** euros.
Entendo que o facto de o Mestrado ser um grau “teoricamente” superior (na medida em que a designação é enganosa, visto que se trata de um titulo que corresponde às licenciaturas que existiam antes da aprovação do processo de Bolonha) permitirá às Universidades exigirem propinas mais elevadas.
No entanto, considero que os valores pedidos são algo excessivos tendo em conta tanto o nível académico a que corresponde o grau de Mestrado, como a realidade existente antes do processo de Bolonha.



Quais as principais fraquezas/defeitos da tua faculdade? Achas admissíveis essas fraquezas/defeitos mesmo pagando umas propinas tão altas? As principais fraquezas da minha faculdade prendem-se essencialmente com questões de gestão de espaço: a Faculdade existe num espaço que é, na minha opinião, muito reduzido tendo em conta a quantidade de pessoas que lá estudam.
Esta situação tem vindo a agravar-se à medida que na Faculdade se vão criando novos cursos (com a abertura de novas Pós-Graduações, bem como os graus de Mestrado e Doutoramento), abrindo a Faculdade a mais pessoas e necessariamente criando mais dificuldades na gestão de um espaço físico tão diminuto.
Desta situação deriva também o facto de termos uma biblioteca bastante reduzida em termos de dimensão, e de praticamente não existir qualquer espaço de convivio para os alunos.
Por entender que a questão do espaço físico em que a Faculdade existe não é um problema que ela possa resolver sozinha, estando dependente necessariamente de decisões superiores para que a situação fosse alterada, acho admissivel que o facto de pagar propinas elevadas não possa mudar a situação. No entanto, acho dificil de entender que a Biblioteca da Faculdade não esteja tão completa como devia estar, em função das propinas que os alunos pagam.







Achas que o Governo dá apoios suficientes e investe no Ensino Superior? (explica)
Acho que o Governo investe no Ensino Superior, mas poderia investir mais; entendo que as limitações orçamentais nem sempre permitem um investimento superior ao que é feito, mas a Educação é sem dúvida uma área chave na qual vale a pena apostar, funcionando como um motor de desenvolvimento do país.
No entanto, a ideia que pessoalmente tenho é a de que os apoios concedidos também nem sempre são usados do modo mais proveitoso por parte das instituições de ensino.


Achas que deveria haver um maior apoio financeiro por parte do Estado para o Ensino Superior? Achas que se isso acontecesse teríamos melhores faculdades?
Do meu ponto de vista, o maior apoio financeiro por parte do Estado não significaria necessariamente um grande salto qualitativo do ponto de vista da qualidade de ensino.
Reconhecidamente, as faculdades ficariam beneficiadas a nível de infraestruturas, e haveria uma melhoria a nível da investigação nas várias áreas do saber – seria permitido aos alunos, com mais infraestruturas, realizarem trabalhos mais práticos ao longo dos cursos.
No entanto, a nivel da qualidade de ensino, do meu ponto de vista o problema é estrutural. Teria que se repensar seriamente, por exemplo, o modo como as aulas são dadas, a abordagem aos conteúdos, a estrutura das aulas, a alteração de alguns métodos de avaliação. Tudo isso melhoraria certamente a qualidade do ensino ministrado, e não depende de investimento estadual para ser alterado, mas sim, de boa vontade e disponibilidade por parte de todas as partes para alterar a situação.


O que achas das manifestações das Associações de Estudantes?
São importantes no sentido em que as manifestações são exercícios saudáveis de democracia e de participação cívica. No entanto, frequentemente, as manifestações são fundadas em motivos que não me parecem atendíveis, e não existe qualquer tentativa de explicar os motivos pelos quais se protesta, parecendo mais importante reivindicar do que dialogar com os Conselhos Cientificos, as Direcções das Universidades, os corpos docentes. Mais frequentemente ainda, a ideia que me fica sempre é a de que as Associações de Estudantes, em situações de manifestação, não procuram quase nunca elucidar os alunos sobre as questões que estão em causa.


Achas que o Ensino Superior pode ser equiparado alguma vez às faculdades estrangeiras?
Do meu ponto de vista, a qualidade do ensino no estrangeiro é frequentemente mitificada, considerando-se sempre que qualquer ensino no estrangeiro é superior aos cursos superiores em Portugal. Nem sempre essa realidade se verifica, pelo que, tenho a certeza que o Ensino Superior português se pode equiparar às faculdades estrangeiras. As abordagens no ensino, as maneiras de ensinar, e os conteúdos leccionados variam conforme os países e as Universidades. Estou em crer que, apesar de ter uma série de falhas óbvias, o Ensino Superior em Portugal terá (pelo menos em alguns cursos) uma preparação técnica mais completa do que em faculdades no estrangeiro.



Achas que houve por parte das universidades uma boa adaptação ao processo de Bolonha? O que é que falhou na tua faculdade?
Na minha faculdade a adaptação foi algo confusa, e as regras, do meu ponto de vista, não foram definidas com a clareza suficiente para evitar mal entendidos. Enquanto aluna notei ainda que as regras mudaram frequentemente em função das dificuldades que iam surgindo ao longo do percurso; o que, a determinado ponto, deixou toda a gente tremendamente confundida quanto às regras a aplicar, e quanto ao modo de interpretar os regulamentos da Faculdade.
A ideia que me ficou é que todas as faculdades tiveram algumas dificuldades na adaptação ao novo modelo, sobretudo na definição de novos conteudos a serem leccionados, e ainda a definirem o modo de resolver as situações em que os alunos eram “apanhados a meio” na transição para o modelo de Bolonha.


Como explicas o facto de cada vez mais os alunos portugueses procurem formação no estrangeiro e depois nunca mais voltarem?A “fuga de cérebros” é cada vez mais um problema preocupante. Penso que a raiz do problema está na situação económica do país: cada vez menos os licenciados sentem que no fim dos estudos podem vir a ter um emprego compatível com os seus estudos e um ordenado adequado.
A solução de estudar no estrangeiro surge cada vez mais como uma alternativa aliciante para qualquer estudante: a experiência de viver no estrangeiro apela aos jovens em geral, do meu ponto de vista; e as melhores condições de trabalho e os melhores salários praticados noutros países ajudam a explicar o facto de muitos jovens procurarem estabelecer-se noutros países para trabalhar, porque acreditam que dificilmente conseguem condições equivalentes de trabalho e de remuneração em Portugal.

Achas que o Estado reflecte a situação dos recém-licenciados?
Considero que o drama que muitos recém-licenciados vivem após a saída da Universidade não é devidamente acompanhado pelo Estado; o trabalho precário que se segue e a dificuldade em arranjar empregos compativeis com os estudos que se obtiveram na Universidade e que permitam uma base de estabilidade económica é um problema que o Estado devia tomar em conta, ponderando medidas de combate a essa situação.
Mas, penso que as próprias Universidades poderiam tentar minorizar essa situação dificil, através de um maior diálogo com as empresas e com a eventual criação de programas de estágios e de parcerias com os potenciais empregadores.





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